Pessoal | Dia Internacional da Mulher

As férias já terminaram (infelizmente), mas ainda estou em modo rescaldo, com preguicite para fazer coisas. Entretanto estou à espera de feedback de um novo projecto profissional e a organizar umas ideias também nessa área.  Março começou, este ano parece que está a ser a correr como o ano passado, e ontem foi o Dia Internacional da Mulher. 

Os murais e feeds das minhas redes sociais encheram-se de frases feitas sobre as mulheres serem assim e assado e capazes disto e daquilo. De mulheres a elogiarem mulheres, de homens a enaltecer mulheres, de campanhas publicitárias (muitas) alusivas ao Dia da Mulher, desconto especial, leve 3 pague 2 e coisas do género, senhoras que foram a Fátima rezar e agradecer à "Nossa" Senhora pelo Dia da Mulher e rezar por todas as mulheres. 

Gostava de saber, de todas aquelas senhoras, quantas delas sabiam realmente o significado e a história que originou este dia. Quantas das pessoas que vi colocarem imagens de que as mulheres são assim e assado e que "hoje é o nosso dia" sabem que o Dia da Mulher não surgiu para nos dar descontos nos cremes e nas roupas e incentivar, ainda mais, o nosso consumismo. Surgiu devido à luta de tantas mulheres, por melhores condições de trabalho e foi comemorado, pela primeira vez, nos EUA a 28 de Fevereiro de 1909. Mais tarde, a 25 de março de 1911, num incêndio numa fábrica têxtil, 124 mulheres morreram, devido às más condições de segurança no trabalho. Este e outros acontecimentos ficaram fortemente associados ao Dia Internacional da Mulher, que só foi adoptado pelas Nações Unidas em 1977. 

Os anos passaram e o Dia Internacional da Mulher, ano após ano, em vez de servir para cartazes e campanhas de promoções publicitárias, deveria servir para relembrar às mulheres e homens que ainda vivemos dias em que mulheres são forçadas a casamentos que não querem, a terem gravidezes indesejadas porque, em alguns países o aborto é ilegal, mulheres que são, na verdade, crianças forçadas a casar com homens que, em alguns casos têm idades para serem quase seus avós, mulheres que são forçadas a casamentos arranjados. A mutilação genital da mulher continua a ser uma agressão real em muitos países, as mulheres continuam a ser descriminadas no trabalho (ainda que mais disfarçadamente), mulheres continuam a ser assediadas, violadas e agredidas e muitas vezes se ouvem coisas como "estava a pedi-las", "se é marido tem que aceitar", entre outras. Muitas mulheres continuam casadas com os seus agressores, não só pelo medo de represálias por parte do agressor e pela falta de apoio, mas pela vergonha do divórcio, porque em muitos países, incluindo em Portugal, em algumas regiões do país, é preferível uma mulher acatar-se e levar uma bofetada, ou duas ou três, do que divorciar-se, para não ficar "mal vista". Mulheres são agredidas e em vez de ser culpabilizado o agressor, culpa-se a vítima. Entre estas, tantas outras coisas.

Portanto, não... Não partilhei imagens de quão bonito e maravilhoso é este dia, porque isso é uma farsa, impingida pelas empresas com objectivo de vender. O Dia da Mulher não é cor-de-rosa, florido e cheio de coraçõezinhos. Ainda há muito que conquistar, muito mais do que o creme de borla alusivo ao Dia da Mulher, ou o desconto nas lojas de roupa. Se pensarmos apenas nessa perspectiva, o Dia da Mulher é tão importante como uma Black Friday e tão hipócrita como o Dia de São Valentim, cujos objectivos são comprar, comprar, comprar... O que também não é mau de todo, a nossa economia bem precisa.