Aos meus avós


Diz-me o calendário que hoje é o vosso dia embora, na realidade, o vosso dia seja todos os dias.
Por muito que o demonstre, acho que mesmo assim vocês não têm a percepção do quão grata sou por vos ter presentes na minha vida desde o dia em que nasci. As minhas melhores memórias de infância são ao vosso lado e, curiosamente, também as da vida adulta.
Sou grata por, durante a minha infância terem estado sempre tão presentes, como uns segundos pais (é como dizem, os avós são pais a dobrar). Tu, avó, a estragar-me com mimos e a safar-me dos raspanetes da minha mãe quando fazia alguma das minhas. É para isso mesmo que servem as avós. O avô a levar-me de passeios no camião, cujas rodas, na altura eram maiores que eu. Era uma aventura, embora acabasse a dormir metade do caminho.
As memórias que me proporcionaram e ainda proporcionam. A minha primeira bicicleta com rodinhas e cor-de-rosa (pirosa que só ela), que me ofereceram no dia em que compraram o vosso primeiro carro. A paciência de me segurarem em cima dos póneis nos carroceis da feira. Os meus primeiros namoricos (daqueles a brincar, dos tempos da primária), que te contei primeiro a ti, avó, e pedi segredo da minha mãe. Só isso, já mostra toda a nossa cumplicidade. Todos os passeios, todas as férias em vossa casa, sem luxos, no campo, a brincar e sujar-me pela terra, plantas e a brincar com os cães. As melhores férias! Em todos os meus momentos importantes, vocês estão presentes, a ajudar-me nas dificuldades e também nos sonhos, um deles, mais recentemente, a minha carta de condução e o meu carro (e as aulas que me deste antes de ir a exame, no teu carro, avô). 
Hoje é o dia dos avós, hoje celebramos, e que celebremos por muitos mais anos. Curiosamente, ontem, em véspera do vosso dia, foi o aniversário do que se poderia chamar de uma "segunda vida" para ti, avô. Há quatro anos, o dia dos avós não foi celebrado. Foi passado com medo, muito medo. Uma das piores, se não a pior, fase das nossas vidas. Há quatro anos, ontem, tinhas acabado de ser operado ao coração, após alguns meses em coma induzido. E há quatro anos, ontem, eu fui a primeira a entrar naquela sala, a ver-te acordar e explicar-te tudo o que tinha acontecido, após a cirurgia. 
Só de me recordar, sinto um aperto enorme. Sabes, és um homem de garra. Acho que me assustei, porque aquela, foi a primeira vez que te vi chorar, aterrorizado. E eu, que tantas vezes chorei à tua frente, tive que engolir o meu choro, para acalmar o teu. O medo de te perdermos foi muito, felizmente recuperaste e pudemos respirar de alívio ao ver os teus progressos. A felicidade de que tudo tenha corrido bem, é inexplicável. E a gratidão de vos poder ter aos dois comigo, ainda mais. 
Tal como vocês sempre estiveram presentes para mim, também eu estarei sempre disponível para vos dar tudo o que eu puder, nos momentos bons e nos momentos maus. Também eu vos quero proporcionar memórias que me proporcionaram a mim, os meus refúgios em vossa casa, os passeios que fazemos, a primeira vez que vos levei a jantar fora para comemorarmos o meu novo trabalho, a primeira vez que levámos o Deni à praia... e tantas mais que virão.
Quero-vos aqui, ainda que o aqui não seja exactamente dentro do meu bolso (se pudesse ser, acreditem que o faria), e que seja a alguns quilómetros de distância, rapidamente percorridos, quero-vos aqui por muitos anos, para serem meus avós, para serem os melhores bisavós de sempre para os filhos que um dia terei. Quero-vos aqui para sempre! E quero-vos muito!

Feliz dia dos avós,

a vossa neta....


Telma




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